Ele
existe há pelo menos 65 milhões de anos, durante todo esse tempo proporcionou
vidas animal e vegetal em nosso país. Sendo ele o maior, mais importante e o
mais autêntico dos brasileiros e ao mesmo tempo o mais vulnerável, não resistiu
as agressões humanas aliadas as respostas da Natureza, está prestes a se tornar
um grande rio seco e cair da classificação de “rio perene” para “rio intermitente”,
ou seja, só ter água corrente durante apenas um período do ano.
A
história oficial do Brasil da conta de que o rio São Francisco foi descoberto
pelo homem branco no dia 04 de outubro de 1501, quando da exploração da costa
brasileira por André Gonçalves e Américo Vespúcio, data alusiva ao santo
peregrino italiano, São Francisco de Assis. Américo Vespúcio também era
italiano, mas navegava no oceano Atlântico a serviço de Portugal, quando ele
encontrou a foz do rio os nativos o chamavam de OPARÁ (rio - mar), depois foi
chamado também de “PARANAPETINGA” (Paraná=peixe miúdo usado como isca,
Petinga=braço de rio caudaloso separado por uma ilha)”. Como naquela época era
costume da Igreja Católica batizar pessoas observando o nome do santo do dia,
Américo Vespúcio seguiu o mesmo hábito batizando tudo que ia descobrindo com o
nome do santo do dia. Por isso, rebatizou o velho OPARÁ com o nome de Rio São
Francisco, pois, além da força do hábito o santo padroeiro da ecologia também
era seu conterrâneo. Os tempos passaram e o velho OPARÁ ou São Francisco, foi
ganhando outros nomes, por carinho dos seus ribeirinhos, pela sua importância
econômica e por sua beleza. Primeiro chamaram - no de “rio dos currais”, pelos
seus primeiros desbravadores portugueses, comandados por Garcia D’Ávila; depois
“Nilo brasileiro” por J.V.Couto; “Rio da Unidade Nacional”, por Capistrano de
Abreu; “Linha de Comunicação”, segundo Burton; “Grande Caminho da Civilização
Brasileira”, por João Ribeiro; “Rio da Redenção Econômica”, pelo ex-presidente
Emilio Garrastazu Médici, ou simplesmente “Chicão” como é chamado até hoje
carinhosamente pelos seus barranqueiros.(2) Todo o carinho que um ser humano
pode dispensar a alguém é pouco para retribuir o que o Velho Chico nos oferece.
Só que poucos lembram desse detalhe, principalmente aqueles que
mais precisam dele para tirar o seu sustento e o de sua família. A maioria só o
destrói impiedosamente. Lamentamos profundamente que tenham acumulado tantos
problemas que ofuscam a beleza e as potencialidades do rio São Francisco. Se
aparecer alguém disposto a lhe atribuir mais um nome, que seja hoje, “rio da
preocupação nacional”, para que no futuro não tenhamos que lhe atribuir outro
ainda mais doloroso: “rio da desintegração nacional”. O rio São Francisco tem sua
história bastante fragmentada. Muitos fatos importantes não foram sequer registrados
e muitos que o foram não existem nem em cartórios, pois foram extraviados pelas
traças e pelos homens.
Para mim, particularmente, que
acompanho a evolução dos problemas do rio São Francisco desde de 1969, quando
aqui cheguei, parece que o futuro que eu tanto temia já chegou. Jamais imaginei
que eu fosse viver o suficiente para testemunhar a morte do Velho Chico. Em
minhas palestras que venho proferindo há mais de 20 anos chamando a atenção
para um tratamento mais responsável com o rio São Francisco, sempre tive o
cuidado de dizer que o problema era sério, mas que rio não iria morrer tão
cedo, mas parece que eu me enganei. É claro que a situação ainda é contornável,
desde que ocorram fortes chuvas lá na Serra da Canastra o suficiente para a
elevação dos lençóis freáticos, ás aguas poderão voltar a aflorar na nascente
que secou recentemente. Mas no momento nosso rio é comparado a um boneco sem
cabeça, braços vivos e cabeça morta.
Mas esse não é o único problema, as
ações perversas daqueles que só enxergam o rio como meio de ganhar dinheiro
fazem com que toda a extensão de suas margens seja desmatada, daí vem as
erosões: fluviais, pluviais e eólica, deixando sua calha principal cada vez
mais larga e rasa.
As eleições estão ai..., ocorrerão
neste domingo (05/10), serão eleitos Presidente da República, governadores,
senadores e deputados estaduais e federais. Mesmo com tudo isso que está
acontecendo com o “velho francisco”, não se ouve ninguém falar de projetos
voltados para o salvamento desse rio. Só se ouve discursos em torno de mais
projetos para retirada de mais e mais água de um lugar aonde ela já está
ficando escassa para os próprios ribeirinhos. É o tipo de progresso que eu não
entendo, quando se busca o sucesso na produção agrícola, na indústria, na
mineração, no turismo e na pecuária, matando a fonte de sustentação. Agora
entenda o ser humano.